Visita à exposição da 34ª Bienal de São Paulo "Faz escuro mas eu canto"

 

Foto: Carolina Azevedo, para a revista Esquinas


Localizado no Palácio das Artes, e aberto ao público do dia 5 de julho a 25 de setembro, o recorte da 34ª Bienal de São Paulo - Faz escuro mas eu canto -  traz temáticas extremamente atuais através das obras expostas, como o racismo, a destruição da Floresta Amazônica e o genocídio indígena, a violência militar e os governos ditatoriais, conflitos armados, dentre outros. 


"Os retratos de Frederick Douglas" foi, sem dúvidas, uma das obras que mais me marcou. Filho de uma mãe negra escravizada e de um pai, provavelmente branco, que nunca o reconheceu, Frederick se tornou o estadunidense mais fotografado do século XIX. Sua intensão por trás das fotografias de si mesmo ao longo de sua vida era difundir a imagem do corpo negro, livre e não esteriotipado, a fim de contribuir para a luta antiracista e contra as práticas segregacionistas do pós-abolição. Ver todas aquelas fotos enfileiradas me fez refletir sobre a falta de representatividade negra nas artes e no quão importante ela é nesse processo de inclusão e de dignificação dessas pessoas que sempre estiveram às margens da sociedade.




Fotos tiradas por mim das fotografias de Frederick Douglas




As obras de Daiara Tukano, "Espelho da vida", e do Jaider Esbell, "Carta ao velho mundo", também me chamaram bastante atenção.

A primeira consite na releitura dos tradicionais mantos Tupinambás, que foram levados para fora do Brasil, e agora estão expostos em alguns países da Europa. No lugar de onde ficaria o rosto de quem o vestisse, há um espelho côncavo, que reflete a imagem, bem reduzida, de quem o vê. Dessa forma, ao olharmos para a obra, nos vemos e sentimos bem pequenininhos diante de toda a simbologia ancestral desse artefato.

Por sua vez, a obra de Jaider Esbell traz diversas intervenções de cunho humorístico, sátiro, e questionador em um livro de artes europeias. Ele expõe os malefícios da colonização em relação a conservação da cultura indígena e da natureza, e também os problemas atuais da sociedade perante a essas questões, como as práticas garimpeiras, a destruição das florestas, os massacres contra as comunidades indígenas, dentre outras. 

Fiquei muito emocionada ao descobrir que os dois artistista foram casados e lutavam juntos em prol da causa indígena. As duas obras foram expostas uma em frente a outra, permitindo que espelho do manto da Dainara refletisse os desenhos de Jaider, travando um diálogo super emocionate entre elas e também estabelecendo um laço entre os dois autores.


 "Espelho da vida", por Daiara Tukano



"Carta ao novo mundo", por Jaider Esbell


Fotos tiradas por mim da exposição


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